Letra:
Eu parti o telemóvel
A tentar ligar para o céu
Pra saber se eu mato a saudade
Ou quem morre sou eu
Quem mata quem
Quem mata quem
Mata?
Quem mata quem?
Nem eu sei
Quando eu souber eu não ligo a mais ninguém
Se a vida ligar
Se a vida mandar mensagem
Se ela não parar
E tu não tiveres coragem de atender
Tu já sabes o que é que vai acontecer
Eu vou descer à minha escada
Vou estragar o telemóvel
O telele
Eu vou partir o telemóvel
O teu e o meu
E eu vou estragar o telemóvel
Quero viver e escangalhar o telemóvel
E se eu partir o telemóvel?
Eu só parto aquilo que é meu.
A tentar ligar para o céu
Pra saber se eu mato a saudade
Ou quem morre sou eu
Quem mata quem
Quem mata quem
Mata?
Quem mata quem?
Nem eu sei
Quando eu souber eu não ligo a mais ninguém
Se a vida ligar
Se a vida mandar mensagem
Se ela não parar
E tu não tiveres coragem de atender
Tu já sabes o que é que vai acontecer
Eu vou descer à minha escada
Vou estragar o telemóvel
O telele
Eu vou partir o telemóvel
O teu e o meu
E eu vou estragar o telemóvel
Quero viver e escangalhar o telemóvel
E se eu partir o telemóvel?
Eu só parto aquilo que é meu.
Reflexão do músico Paulo Bastos
Depois
de ver tanta crítica particularmente à letra da música “Telemoveis” do
Conan Osiris, fiquei perplexo! pois considero que esta letra é de longe
um exemplo das melhores que se fazem hoje em dia no universo da música
Pop/Rock, onde atualmente as letras são na sua maioria "receitas de
bolos": textos muito claros e objetivos, desinteressantes sem qualquer
capacidade de surpreender ou promover viagens por histórias nas nossas
mentes. Então para os mais desatentos, que apenas ouviram duas frases da
letra e logo concluíram sumariamente que a letra não presta (pois
utiliza termos/palavras alegadamente pouco interessantes), faço aqui, a
título de exemplo, uma breve explicação (FRASE POR FRASE) de uma das
MUITAS viagens que se pode fazer por esta letra, bastante rica, capaz de
nos levar por mundos onde só a arte penetra:
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EU PARTI O TELEMÓVEL
(De tanto uso destruí o telemóvel)
A TENTAR LIGAR PARA O CÉU
(a tentar através dele chegar desesperadamente a um estado de felicidade plena, ao céu/paraíso)
PARA SABER SE EU MATO A SAUDADE
(fiz isso para tentar matar/alhear-me/libertar-me do sofrimento (causado pela saudade extrema) que me traz a vida real)
OU QUEM MORRE SOU EU
(pois se não conseguir matar esse sofrimento/saudade quem morre sou eu, pois não aguento a dor)
QUEM MATA QUEM
(Mas
afinal quem mata quem? o telemóvel matara o sofrimento? o sofrimento
vai-me matar a mim? ou o próprio telemóvel mata-me a mim ao tornar-me
alheado da verdadeira vida real?)
QUEM MATA QUEM MATA?
(Quem mata o que me mata?: quem mata o meu sofrimento? quem mata o telemóvel que me mata/alheia da vida?)
QUEM MATA QUEM?
(Será que eu tenho coragem para matar/deixar o telemóvel? se sim, depois quem mata o meu sofrimento/saudade?)
NEM EU SEI
QUANDO EU SOUBER EU NÃO LIGO A MAIS NINGUÉM
(Quando souber como tudo isto funciona ai sim não precisarei mais de telemóveis)
SE A VIDA LIGAR
SE A VIDA MANDAR MENSAGEM
SE ELA NÃO PARAR
E TU NÃO TIVERES CORAGEM DE ATENDER
TU JÁ SABES O QUE É QUE VAI ACONTECER
EU VOU DESCER À MINHA ESCADA
VOU ESTRAGAR O TELEMÓVEL
(Se
a vida não parar e me trouxer mais problemas mais sofrimento, tenho de
me lembrar que não me posso refugiar no telemóvel, tenho de partir o
telemóvel para não ter a tentação de me refugiar nele)
O TELELE
EU VOU PARTIR O TELEMÓVEL
O TEU E O MEU
E EU VOU ESTRAGAR O TELEMÓVEL
QUERO VIVER E ESCANGALHAR O TELEMÓVEL
(Quero
viver, quero libertar-me deste vício do telemóvel, que me prende e não
me deixar ter emoções reais, não me deixa viver, quero libertar-me,
partir todos os telemóveis, evitar que os outros caiam neste precipício
também)
E SE EU PARTIR O TELEMÓVEL?
EU SÓ PARTO AQUILO QUE É MEU
(Se
partir o telemóvel não vou magoar ninguém, não será nada dramático,
deveria ser algo simples de fazer, só me implica a mim, só depende de
mim)
TOU PRA VER SE A SAUDADE MORRE
(Mas se o partir, a saudade/sofrimento que me levou a refugiar no telemóvel será que não volta?)
VAI NA VOLTA QUEM MORRE SOU EU
(quem
morre se calhar serei eu que já talvez não consiga viver sem o
telemóvel neste momento. Mesmo se conseguisse e se depois o sofrimento
voltasse? sei que não conseguia viver com a dor desse sofrimento)
QUEM MATA QUEM MATA?
(conseguirei eu destruir o telemóvel ou ele e que me vai acabar por matar a mim?)
(Quem mata aquilo que me está a matar, alguem me ajuda?)
(conseguirei eu destruir o telemóvel ou sem ele eu é que morro?)
EU NEM SEI
A CHIBARIA NUNCA VIU NASCER NINGUÉM
(Se-calhar
não conseguirei renascer, não saberei viver sem ele, por outro lado por
causa dele sei que não vou mais conseguir apreciar o que nasce à minha
volta na vida real da qual, por causa dele, estou alheado, a passar ao
lado)
EU PARTIA TELEMÓVEIS
(antes, ria-me dos viciados, eu proprio partia telemoveis, dizia ter coragem para sair deste tipo de vícios)
MAS EU NUNCA MAIS PARTO O MEU
(mas
não estou a conseguir tomar essa decisão agora e partir o telemóvel,
não estou a conseguir sair do vício, que se tornou mais forte que eu)
EU SEI QUE A SAUDADE TÁ MORTA
(sei que a vida real, a vida com emoções reais, vida das memórias reais, está morta para mim enquanto tiver este vício)
(sei
que já não sinto sequer a saudade (ela realmente morreu), mas isso
aconteceu porque quem morreu já fui eu, vivo agora fechado numa ilusão e
num vício, apegado ao telemóvel)
QUEM MANDOU A FLECHA, FUI EU
(mas quem se auto destruiu fui eu)
QUEM MANDOU A FLECHA, FUI EU
(fui eu que me deixar chegar a este ponto, a culpa não é de mais ninguém)
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Isto
não se devia fazer cada um deveria fazer a sua viagem … mas pareceu-me a
forma mais simples de tentar explicar a minha posição perante ataques
cerrados…
Concluindo, não só a letra é rica, como a temática que a mesma pode abordar.
Isto
foi apenas um exemplo feito rapidamente, esta letra deixa espaço para
outras viagens com nuances diferentes e mais ou menos específicas como
por exemplo o sofrimento referido ser especificamente por causa de
alguém que morreu (daí o telefonar para o céu … para matar a saudade …
de forma frustrada, ... partir o telemóvel), ou o sofrimento ser devido a
um amor passado pelo que no final das chamadas depois das discussões só
lhe apetecia partir o telemóvel …. deixo ideias para vocês fazerem a
vossa própria história :), para os menos criativos...
Conan
Osiris tem nos seus textos várias camadas, que servem para os
superficiais que se contentam com utilização de palavras engraçadas, do
dia a dia, bem articuladas e encadeadas a um bom ritmo e ao mesmo tempo
para os que apreciam viagens e abordagem a problemáticas/temas ao mesmo
tempo simples e complexos da nossa humanidade/sociedade. Daí a sua arte
ser (para alguns inexplicavelmente) tão transversal...
“Quem
afirma que falta talento a Conan Osiris pouco ou nada percebe de artes
performativas. O rapaz encontrou um estilo que não tínhamos visto até
agora em Portugal e conseguiu construí-lo e sublimá-lo a um ponto que
toda a imagética seja tão forte quanto a música”
A isto acrescento: igualmente para o seu texto/palavra … portanto o ARTISTA COMPLETO
Eu gosto da letra. Muito original sem qualquer dúvida.
ResponderEliminar.
Deixando cumprimentos
.
** Sonho em puras lágrimas de amor **